Os adeptos da confrontação
"Fico feliz que o governo do Brasil esteja dialogando com esses líderes. O secretário-geral sempre acreditou no diálogo, principalmente com quem discordamos." (Kofi Annan)
A política externa unilateralista e confrontacionista de George Bush deixou seguidores fervorosos no Brasil. Com efeito, a julgar pelas críticas ao papel moderador que o Brasil tenta desempenhar no Oriente Médio, o belicismo dos republicanos conservadores da América do Norte fez escola em nosso país.
Bush recusava-se a dialogar com governos vistos como hostis e desprezava os mecanismos políticos multilaterais de conciliação e moderação. Preferiu sempre a pressão e a guerra. Deu no que deu. Isolou seu país, perdeu aliados importantes e comprometeu tropas nos pântanos políticos do Iraque e do Afeganistão, até agora sem resultados significativos. Comprometeu também a imagem dos EUA, ao permitir tortura e sequestros em solo estrangeiro.
Obama, político habilidoso, prefere o diálogo e a construção de alianças. O Brasil de Lula também. Não foi por acaso que em menos de um mês vieram ao nosso país Shimon Peres, de Israel, Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, e Ahmadinejad, do Irã. É que o nosso país é visto, hoje, como uma potência em ascensão que pode e deve ter papel relevante em todas as questões mundiais. O conflito no Oriente Médio é uma delas, pois não afeta somente aquela região, mas toda a geopolítica do planeta. O Brasil, nação na qual as comunidades judaicas e árabes convivem pacificamente e país com crescente protagonismo internacional, pode ser um ator moderador no difícil processo de construção da paz no Oriente Médio. Os atores tradicionais até agora falharam. É hora de novos interlocutores contribuírem positivamente.
Entretanto, os seguidores locais de Bush não estão gostando dessa história. Eles acham que o Brasil é um país pequeno, que deve voltar a praticar a política externa periférica do passado. Também não aprovaram a visita de Ahmadinejad, como se fora possível distender o ambiente no Oriente Médio sem a concorrência do Irã, país com grande peso econômico e político naquela região. Goste-se ou não do regime iraniano (eu não gosto), é forçoso reconhecer que não haverá estabilidade no Oriente Médio sem a participação daquele país. Ademais, o Brasil mantém relações diplomáticas ininterruptas há décadas com o Irã, como muitos outros países.
Esses senhores parecem acreditar que diálogo e acercamento de interesses comuns implicam plena concordância. Assim, se Ahmadinejad põe em dúvida o Holocausto, Lula, ao recebê-lo, estaria concordando com ele. O Brasil estaria legitimando tudo o que Irã fez ou venha a fazer. Ora, o Brasil tem posições históricas conhecidas pela paz e a solução da convivência pacífica entre "dois Estados" (Israel e Palestina) para o conflito do Oriente Médio. O nosso país não abandonou essas posições por causa da visita de Ahmadinejad. Lula, que participou comigo, com solidéu e tudo, de homenagem às vítimas do Holocausto, o maior crime cometido contra a humanidade, também não.
Mas a visão simplificadora desses senhores sobre relações internacionais é limitadora e arriscada. Limitadora porque diminui dramaticamente o escopo de atuação do País, ao tentar restringir visitas e diálogos de alto nível apenas a países amigos e com currículo ilibado em temas sensíveis. Arriscada porque não há nada mais perigoso do que a obtusidade.
Ao contrário do vaticinado por aqueles que apostaram no desastre da visita, o Brasil deixou bem claro a Ahmadinejad e ao mundo as suas justas e ponderadas posições. Lula defendeu o direito aos programas nucleares para fins pacíficos, tal como está assegurado no artigo 4º do TNP, condenou o terrorismo e a intolerância e reiterou o apoio brasileiro à solução dos "dois Estados" viáveis e seguros (Israel e Palestina) para o conflito do Oriente Médio.
O Brasil deu o seu recado firme e moderador, com apoio da comunidade internacional, inclusive dos EUA. O mundo entendeu, porque a diplomacia pode e deve construir saídas. Não entenderam os saudosistas da era do Brasil apequenado e seguidores do belicismo unilateralista.
Aloizio Mercadante, 55, economista e professor licenciado, é senador da República pelo PT-SP, líder do PT no Senado e vice-presidente do Parlamento do Mercosul
Enviado por José Hebert Cordeiro Lucas.
"Fico feliz que o governo do Brasil esteja dialogando com esses líderes. O secretário-geral sempre acreditou no diálogo, principalmente com quem discordamos." (Kofi Annan)
A política externa unilateralista e confrontacionista de George Bush deixou seguidores fervorosos no Brasil. Com efeito, a julgar pelas críticas ao papel moderador que o Brasil tenta desempenhar no Oriente Médio, o belicismo dos republicanos conservadores da América do Norte fez escola em nosso país.
Bush recusava-se a dialogar com governos vistos como hostis e desprezava os mecanismos políticos multilaterais de conciliação e moderação. Preferiu sempre a pressão e a guerra. Deu no que deu. Isolou seu país, perdeu aliados importantes e comprometeu tropas nos pântanos políticos do Iraque e do Afeganistão, até agora sem resultados significativos. Comprometeu também a imagem dos EUA, ao permitir tortura e sequestros em solo estrangeiro.
Obama, político habilidoso, prefere o diálogo e a construção de alianças. O Brasil de Lula também. Não foi por acaso que em menos de um mês vieram ao nosso país Shimon Peres, de Israel, Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, e Ahmadinejad, do Irã. É que o nosso país é visto, hoje, como uma potência em ascensão que pode e deve ter papel relevante em todas as questões mundiais. O conflito no Oriente Médio é uma delas, pois não afeta somente aquela região, mas toda a geopolítica do planeta. O Brasil, nação na qual as comunidades judaicas e árabes convivem pacificamente e país com crescente protagonismo internacional, pode ser um ator moderador no difícil processo de construção da paz no Oriente Médio. Os atores tradicionais até agora falharam. É hora de novos interlocutores contribuírem positivamente.
Entretanto, os seguidores locais de Bush não estão gostando dessa história. Eles acham que o Brasil é um país pequeno, que deve voltar a praticar a política externa periférica do passado. Também não aprovaram a visita de Ahmadinejad, como se fora possível distender o ambiente no Oriente Médio sem a concorrência do Irã, país com grande peso econômico e político naquela região. Goste-se ou não do regime iraniano (eu não gosto), é forçoso reconhecer que não haverá estabilidade no Oriente Médio sem a participação daquele país. Ademais, o Brasil mantém relações diplomáticas ininterruptas há décadas com o Irã, como muitos outros países.
Esses senhores parecem acreditar que diálogo e acercamento de interesses comuns implicam plena concordância. Assim, se Ahmadinejad põe em dúvida o Holocausto, Lula, ao recebê-lo, estaria concordando com ele. O Brasil estaria legitimando tudo o que Irã fez ou venha a fazer. Ora, o Brasil tem posições históricas conhecidas pela paz e a solução da convivência pacífica entre "dois Estados" (Israel e Palestina) para o conflito do Oriente Médio. O nosso país não abandonou essas posições por causa da visita de Ahmadinejad. Lula, que participou comigo, com solidéu e tudo, de homenagem às vítimas do Holocausto, o maior crime cometido contra a humanidade, também não.
Mas a visão simplificadora desses senhores sobre relações internacionais é limitadora e arriscada. Limitadora porque diminui dramaticamente o escopo de atuação do País, ao tentar restringir visitas e diálogos de alto nível apenas a países amigos e com currículo ilibado em temas sensíveis. Arriscada porque não há nada mais perigoso do que a obtusidade.
Ao contrário do vaticinado por aqueles que apostaram no desastre da visita, o Brasil deixou bem claro a Ahmadinejad e ao mundo as suas justas e ponderadas posições. Lula defendeu o direito aos programas nucleares para fins pacíficos, tal como está assegurado no artigo 4º do TNP, condenou o terrorismo e a intolerância e reiterou o apoio brasileiro à solução dos "dois Estados" viáveis e seguros (Israel e Palestina) para o conflito do Oriente Médio.
O Brasil deu o seu recado firme e moderador, com apoio da comunidade internacional, inclusive dos EUA. O mundo entendeu, porque a diplomacia pode e deve construir saídas. Não entenderam os saudosistas da era do Brasil apequenado e seguidores do belicismo unilateralista.
Aloizio Mercadante, 55, economista e professor licenciado, é senador da República pelo PT-SP, líder do PT no Senado e vice-presidente do Parlamento do Mercosul
Enviado por José Hebert Cordeiro Lucas.
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